O DIÁLOGO COM OS TEXTOS: A INTERTEXTUALIDADE
O texto abaixo, “Terezinha de Jesus”, é uma cantiga de roda conhecida por muitas crianças.
O texto abaixo, “Terezinha de Jesus”, é uma cantiga de roda conhecida por muitas crianças.
Talvez você também a conheça:
Teresinha de Jesus
Terezinha de Jesus
Deu uma queda foi ao chão;
Acudiu três cavalheiros,
Todos três chapéu na mão.
O primeiro foi seu pai,
O segundo seu irmão,
O terceiro foi aquele
Que a Tereza deu a mão.
Da laranja quero um bago,
Do limão quero um pedaço,
Da morena mais bonita
Quero um beijo e um abraço.
Terezinha levantou-se,
Levantou-se lá do chão,
E sorrindo disse ao noivo:
Eu te dou meu coração.
( Veríssimo de Melo)
1- As cantigas de roda são criações populares e fazem parte do folclore infantil. Que termo mostra claramente o uso do dialeto popular em “Terezinha de Jesus” é :
(A) “deu a queda e foi ao chão”.
(B) “quero um beijo e um abraço”.
(C) "levantou-se lá do chão”.
(D) “acudiu três cavalheiros”.
Certos textos atravessam os tempos, tornam-se conhecidos por muitas gerações. Assim, acabam por servir de inspiração a outros, mais atuais.Dizendo de modo diverso: muitos dos textos de hoje dialogam com outros, de época anterior, resultando na intertextualidade.
O texto a seguir é a letra de uma música, composta por Chico Buarque, e cujo título é Teresinha.
Teresinha
(Chico Buarque)
O primeiro me chegou
Como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia,
Trouxe um broche de ametista.
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha.
Me mostrou o seu relógio;
Me chamava de rainha.
Me encontrou tão desarmada,
Que tocou meu coração,
Mas não me negava nada
E, assustada, eu disse "não".
O segundo me chegou
Como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar.
Indagou o meu passado
E cheirou minha comida.
Vasculhou minha gaveta;
Me chamava de perdida.
Me encontrou tão desarmada,
Que arranhou meu coração,
Mas não me entregava nada
E, assustada, eu disse "não".
O terceiro me chegou
Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada,
Também nada perguntou.
Mal sei como ele se chama,
Mas entendo o que ele quer!
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher.
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não,
Se instalou feito posseiro
Dentro do meu coração.
1- O que é semelhante em ambos?
2- O que é diferente?
3- Nos dois textos, a mulher se apaixonou. Essa revelação é expressa de modo diferente, mas a idéia é a mesma.Que versos indicam isso em:
“Teresinha de Jesus”-
“Teresinha”-
As várias formas da intertextualidade – Nem sempre é fácil classificar todas as ocorrências da intertextualidade, uma vez que ela toma extensões e formas muito diferentes, na mesma medida em que o próprio tem infinitas possibilidades de realização.
Por exemplo:as adaptações para a televisão, o cinema e o teatro de determinado romance podem ser mais ou menos fiéis ao original. Às vezes, a telenovela funde duas ou três obras de um autor. Em outros casos ela é inspirada em um romance: isso quer dizer que o adaptador se sentiu muito livre para modificar a história, conservando dela apenas alguns pontos, sua questão central ou alguns personagens.
Em todo caso, há algumas formas bem identificáveis da intertextualidade, que vamos ver agora.
Você conhece a história do Patinho Feio , com toda certeza, um dos contos infantis mais populares em todo o mundo, escrito pelo dinamarquês Hans Chirstian Andersen(1805-1875).
1-Faça em seu caderno um pequeno resumo dessa história ( O Patinho Feio) tal como você a conhece.
Possivelmente, o resumo que você fez é muito próximo da narrativa de Andersen. Bem simplificado: O patinho, ao nascer, era muito diferente dos irmãos, maior e feio. Repudiado por todos, resolve fugir. Vai pelo mundo afora, até que encontra em um lago lindas aves brancas. Encantado, aproxima-se delas, quando percebe sua imagem refletida nas águas, muito parecida com a dos cisnes, que o acolhem como o mais bonito dentre eles.
Nós fizemos com a história do Patinho Feio um tipo de intertextualidade chamada paráfrase. Trata-se da retomada de um texto sem mudar seu fio condutor, a sua lógica.
Resumos, adaptações, traduções tendem a ser paráfrase. Paráfrase é o tipo de intertextualidade em que são conservados ideia e o fio condutor do original.
LEIA O TEXTO:
O patinho realmente feio
Era uma vez uma mamãe pata e um papai pato que tinham sete bebês patinhos. Seis eram patinhos normais.O sétimo, porém, era um patinho realmente feio.
Todo mundo dizia: “ Mas que bando de patinhos tão bonitinhos... todos, menos aquele ali. Puxa, como ele é feio!”
O patinho realmente feio ouvia o que as pessoas diziam, mas nem ligava. Sabia que um dia iria crescer e provavelmente virar um cisne, muito maior e mais bonito do que qualquer outra ave do lago.
Bem, só que no fim ele era apenas um patinho realmente feio. E, quando cresceu, tornou-se apenas um pato grande realmente muito feio. FIM.
(SCIESZKA, Jon.)
2- Além de claramente dialogar com a narrativa de Andersen, há dentro da própria narrativa acima um outro momento de diálogo com o conto clássico.
- Qual é?
- Esse dado lhe parece aumentar ou diminuir a decepção final?
- Qual foi a única novidade que o crescimento trouxe para o patinho?
Jon Scieszka é um escritor norte-americano de grande projeção. A maioria de seus contos reescrevem os clássicos infantis de um ângulo diferente e de forma sempre humorística.
Possivelmente, O Patinho Realmente Feio é muito diferente da história que você contou, um pouco antes: o fio condutor rompeu-se, com a relação ao conto matriz. A idéia da compensação do sofrimento, da transformação, por exemplo, desaparece aqui.
Neste caso, temos uma paródia.
Paródia é um tipo de processo intertextual em que o texto original perde sua idéia básica, seu fio condutor. A narrativa é invertida, ou subvertida. Frequentemente, a paródia é crítica e questionadora.
Certamente você conhece a história de “Branca de Neve e os sete anões”. Agora você vai conhecer um poema divertido, de Guilherme Mansur.
Branca de Neve
Branca de Nave
E os sete... Ah, não!
Branca de Never
E os sete... Ah, não!
Vanca de Brene
E os sete...Ah,não!
Brava de Nence
E os sete... Ah, não!
Anca de Breven
E os sete...Ah, não!
Cabra de Nenve
E os sete...Ah,não!
Brance de Neva
E os sete...Ah,não!
1- O nome da famosa personagem do conto de fadas sofre várias transformações no poema. De que modo o poeta consegue isso?
2- Preste atenção ao verso sempre repetindo “e os sete...Ah,não!” o que você observa em relação ao efeito sonoro do verso?
3- Além do efeito sonoro, que sentido tem a expressão “Ah, não!” no poema?
4- É correto dizer que o poema Branca de Neve é uma paráfrase do famoso conto dos irmãos Grimm, Branca de Neve e os sete anões?
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