Poesia de Cora Coralina

“Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”



Cora Coralina















































Espero que aproveitem bem este blog... um abraço! SANDRA AQUINO















quarta-feira, 16 de novembro de 2011

TRABALHANDO COM BILHETES

BILHETES
Por meio dos bilhetes transmitimos mensagens rápidas.
As características de um bilhete:
• a data;
• um cumprimento junto ao nome do destinatário;
• a mensagem;
• a despedida;
• o nome do remetente.

Veja um exemplo:

26/08/2010

Amiga Selma,
Taís pediu-me para avisá-la de que amanhã não haverá aula de violão.
A próxima aula ficou marcada para sexta-feira às 17:00 horas.
Um beijo,
Luciana

Você pode utilizar um bilhete em diversas ocasiões.
Por exemplo:
• convidar um amigo par ir ao sítio;
• marcar uma partida de futebol;
• pedir um livro emprestado;
• cancelar um compromisso;
• chamar uma amiga para sair,etc.


Agora chegou a sua vez! Faça um bilhete para um amigo convidando-o para um passeio.

A ÚLTIMA CRÔNICA - FERNANDO SABINO

A última crônica
Fernando Sabino

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso."
Crônica publicada no livro "A Companheira de viagem" (Editora Record, 1965)
Atividades:
1) Que tipo de narrador o texto “A última crônica” apresenta? Justifique sua resposta.
2) Retire do primeiro parágrafo as informações abaixo:
a) Quem entra no botequim?
b) Onde fica o botequim?
c) Em primeiro lugar, entra no botequim para quê?
d) Na verdade, o que ele faz nesse lugar?
e) O que ele deseja?
3) Sobre o trecho: “Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade.”, responda:
a) Quem são esses “três esquivos”?
b) Onde eles estão?
c) Levante hipóteses a respeito do que eles estão fazendo ali. Como está a célula da sociedade nos dias de hoje?
4) O que o pai pede ao garçom?
5) No trecho “A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom.”, explique a ansiedade da mãe ao esperar a aprovação do garçom.
Por que o garçom não aprovaria o pedido do pai?
6) Observe que ao descrever a cena que está diante dos olhos, o narrador-personagem questiona: “Por que não começa a comer?” Por quê? Levante hipóteses.
7) Em “Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual.”, a expressão destacada será revelada mais adiante. O que representa esse ritual? Quais são os elementos que compõem esse ritual?
8) Explique o que sentiu o narrador-personagem quando o pai sorri para ele.
“Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.”
9) Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como este sorriso. (Fernando Sabino) Assinale a série em que estão devidamente classificadas as formas verbais em destaque.
a) futuro do pretérito, presente do subjuntivo
b) pretérito mais-que-perfeito, pretérito imperfeito do subjuntivo
c) pretérito mais-que-perfeito, presente do subjuntivo
d) futuro do pretérito, pretérito imperfeito do subjuntivo
e) pretérito perfeito, futuro do pretérito

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

PEÇA TEATRAL - PLUFT,O FANTASMINHA

PLUFT,O FANTASMINHA , DE MARIA CLARA MACHADO


Em CENA, só Pluft, o menino-fantasma simpaticíssimo e que morria de medo de gente, e Maribel, a menina que tinha sido raptada pelo pirata Perna- de- Pau e levada para uma casa abandonada, por acaso a residência da família Fantasma.
Maribel deu de cara com o fantasminha e desmaia.Ela acaba de acordar de um desmaio. O momento é de muita tensão... Ela menos medrosa, acaba começando um diálogo:
Maribel(tensa) – Como é que você se chama?
Pluft(tenso) – Pluft. E você?
Maribel – Eu sou Maribel.
Pluft – Você é gente,não é?
Maribel – Sou. E você?
Pluft – Eu sou fantasma.
Maribel – Fantasma mesmo?
Pluft – Fantasma mesmo. Minha mãe também é fantasma.
Maribel(relaxando) – Engraçado ... de você eu não tenho medo!!!...
Pluft(relaxando) – Nem eu de você. Engraçado...
Mãe( de dentro) – Pluft!
Pluft – É a minha mãe. Com licença. O que é, mamãe?
Mãe – Com quem você está falando?
Pluft – Com Maribel.
Mãe – Com quem?
Pluft (gabando-se) – Ora, mamãe, com gente. (Aproximando-se mais da menina, com ar de velha amizade.) Com Maribel.
Mãe – Ah! Então ela já acordou?
Pluft – Sim. Já acordou.
Maribel - Mas sua mãe também é fantasma?
Pluft – Claro, ora! (Ofendido.) Você queria que ela fosse peixe?!

CONTO: O ciclista de Dalton Trevisan

O ciclista
Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho e não se perturba – levanta vôo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano persegue a morte como trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a domicílio.
É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso, desvia de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné.
Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão. Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfono esqueleto. Se não se estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais curta – foge por entre nuvens, a bicicleta no ombro.
Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d´água no asfalto. Nem só corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.
Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.

(Dalton Trevisan)

ATIVIDADES:

1- O conto é exemplo da prosa urbana da literatura contemporânea. Explique por quê.

2- A linguagem do conto é figurada. Explique as seguintes expressões:
a) “ Lâmpada de Aladino”_________________________________________
b) “...touro e toureiro,golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.”__________________________________________________________

3- Dê uma interpretação `a última frase do conto.

4- Na expressão: “... levanta vôo bem na cara do guarda crucificado”.A expressão grifada está corretamente interpretada em:
(A) O guarda está descontente com o trânsito.
(B) O guarda abre os braços para expressar o caos do trânsito.
(C) O guarda sente-se explorado ao exercer sua função.
(D) O guarda fica de braços abertos para impedir o ciclista de ultrapassar o sinal.
(E) N.D.A.

5- O tratamento dispensado ao ciclista no trânsito da cidade grande está bem representado em:
(A) “Enfrenta o sono trim-trim.”
(B) “Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfano esqueleto”.
(C) “Curvado no guidão lá vai ele numa chispa”.
(D) “...golpeia ferido o ar nos cornos do guidão”.
(E) “...desvia de fininho o poste e o caminhão;”